Proteção de Dados e Inteligência Artificial: Como as novas diretrizes da LGPD impactam empresas e consumidores?
A convergência entre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e a Inteligência Artificial (IA) representa um dos maiores desafios regulatórios e éticos da era digital.
A partir das atualizações previstas para 2025, o tratamento de dados pessoais passa a exigir das empresas e dos consumidores um comprometimento mais elevado com critérios de controle, clareza e prestação de contas no uso das informações.
Nesse contexto, analisamos os impactos dessas mudanças, destacando a base legal aplicável, os riscos emergentes e algumas estratégias para garantir conformidade e confiança no uso de tecnologias baseadas em IA.
Acompanhe até o final!
Princípios Fundamentais da LGPD.
A legislação brasileira de proteção de dados estabelece que qualquer operação envolvendo informações pessoais deve observar, entre outros critérios, a limitação à finalidade previamente declarada e o uso apenas das informações estritamente adequado às finalidades pretendidas.
Aplicação à IA:
Sistemas de IA, especialmente aqueles baseados em aprendizado de máquina, requerem grandes volumes de dados para treinamento e operação.
Contudo, obter dados pessoais excessivos ou desnecessários viola os preceitos da LGPD. Por isso, é essencial que as organizações detalhem, de forma objetiva, os propósitos da coleta e restrinjam o tratamento aos dados realmente imprescindíveis para suas operações.
Estratégias de Ação:
- Efetuar um levantamento minucioso das informações pessoais captadas e processadas por tecnologias de Inteligência Artificial, identificando fluxos, finalidades e responsáveis por cada etapa.
- Implementar políticas de minimização de dados, garantindo que apenas as informações necessárias sejam processadas.
- Documentar as finalidades específicas para cada conjunto de dados utilizado.
Consentimento e Bases Legais para o Tratamento de Dados.
A LGPD estabelece diferentes fundamentos legais que autorizam o tratamento de dados pessoais, variando conforme a etapa e o contexto da operação realizada:
- No consentimento do titular.
- Para o cumprimento de obrigação legal ou regulatória.
- Na execução de políticas públicas.
- Quando os dados são utilizados para fins de pesquisa científica, histórica ou estatística, conduzidos por instituições devidamente autorizadas.
- Nas execuções de contrato, entre outras.
Aplicação à IA:
Em projetos de IA, é comum que os dados sejam utilizados para múltiplas finalidades, o que pode dificultar a obtenção de um consentimento livre, informado e inequívoco.
Além disso, o uso de dados para treinar algoritmos pode não estar claramente previsto nas finalidades originais da coleta junto aos titulares.
Estratégias de Ação:
- Revisar os mecanismos de obtenção de consentimento, assegurando que sejam específicos e destacando as finalidades relacionadas à IA.
- Avaliar a possibilidade de fundamentar o tratamento de dados em outras bases legais, como a execução de contrato ou o legítimo interesse, quando aplicável.
- Registrar de forma organizada e constantemente revisada os fundamentos jurídicos aplicados a cada atividade de tratamento de dados pessoais realizada pela organização.
Quais os principais Direitos dos Titulares e Decisões Automatizadas?
Base Legal: Art. 18 e Art. 20 da LGPD
A LGPD em seu artigo 18 assegura aos titulares dos dados diversos direitos, incluindo:
- A confirmação.
- O acesso.
- A correção.
- A exclusão.
- Bloqueio, eliminação ou anonimização.
- A portabilidade de seus dados pessoais.
- Revogação de consentimento.
Além disso, o Art. 20 assegura ao titular o direito de requerer a revisão de decisões tomadas unicamente com base em tratamento automatizado de dados pessoais que possam afetar seus interesses diretamente.
Aplicação à IA:
Sistemas de IA frequentemente tomam decisões automatizadas, como concessão de crédito, seleção de candidatos ou personalização de ofertas. Essas decisões podem ter impactos significativos na vida dos indivíduos, tornando essencial a possibilidade de revisão humana.
Estratégias de Ação:
- Implementar processos que permitam a revisão humana de decisões automatizadas, especialmente aquelas que produzam efeitos legais ou significativos para os titulares.
- Desenvolver mecanismos que expliquem o funcionamento dos algoritmos, permitindo que os titulares compreendam os critérios utilizados nas decisões.
- Criar canais de comunicação seguros e para que os titulares possam ter acesso de forma rápida e então, exercer seus direitos na forma da LGPD.
Avaliação de Impacto à Proteção de Dados (DPIA).
A LGPD prevê a realização de Avaliação de Impacto à Proteção de Dados Pessoais (DPIA) nos casos em que o tratamento de dados possa gerar riscos relevantes aos direitos e liberdades dos titulares.
Aplicação à IA:
Projetos de IA, especialmente aqueles que envolvem decisões automatizadas ou o tratamento de dados sensíveis, estão sujeitos à obrigatoriedade de realização de DPIA.
Essa avaliação deve identificar os riscos associados ao tratamento de dados e propor medidas para mitigá-los.
Estratégias de Ação:
- Incluir a Avaliação de Impacto à Proteção de Dados (DPIA) como etapa obrigatória em todas as fases dos projetos de Inteligência Artificial, iniciando ainda no planejamento e se estendendo até sua execução prática.
- Utilizar metodologias reconhecidas para a condução da avaliação, garantindo a identificação abrangente dos riscos.
- Registrar formalmente as ações implementadas para reduzir os riscos encontrados, evidenciando a responsabilidade da organização com a segurança e a privacidade das informações.
Medidas de Segurança e Governança dos Dados.
A LGPD impõe aos agentes de tratamento a obrigação de adotar medidas de segurança, técnicas e administrativas aptas a proteger os dados pessoais de acessos não autorizados e de situações acidentais ou ilícitas.
Adicionalmente, a LGPD estimula a implementação de práticas responsáveis e estruturas sólidas de governança para assegurar o alinhamento das operações com os requisitos legais.
Aplicação à IA:
Dada sua sofisticação técnica, os sistemas de Inteligência Artificial demandam mecanismos consistentes de controle, proteção da informação e gestão de riscos associados ao uso de dados pessoais.
Esse compromisso abrange ações para bloquear invasões virtuais, evitar exposições indevidas de dados e assegurar que as informações mantidas estejam íntegras e resguardadas contra acessos não autorizados.
A integração entre a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e as tecnologias baseadas em Inteligência Artificial (IA) inaugura um novo paradigma regulatório e ético para empresas e consumidores no Brasil.
As diretrizes legais exigem não apenas o cumprimento de obrigações formais, como a obtenção de consentimento ou a realização de Avaliações de Impacto (DPIAs), mas uma mudança cultural na forma de coleta, gestão e proteção dos dados pessoais.
Para as empresas, o desafio está em alinhar inovação tecnológica à conformidade jurídica, especialmente diante da complexidade dos sistemas de IA e de sua capacidade de processar grandes volumes de dados de forma autônoma.
Para os consumidores, o novo cenário representa um avanço na proteção de seus direitos fundamentais, garantindo maior controle e transparência sobre o uso de suas informações pessoais.
Diante desse cenário, torna-se imprescindível contar com o apoio de especialistas multidisciplinares — jurídicos, tecnológicos e de governança de dados — que possam avaliar cada situação concreta, orientar a adoção de boas práticas e garantir que os projetos de IA estejam de fato em conformidade com a LGPD.
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